Crônicas
E lá estava eu. Com uma roupa ridícula rebolando a minha pseudo-bunda pra tentar socializar. "Você vai fazer mais amigos e com certeza vão parar de te zoar" foi o que minha mãe, Sônia, disse. De fato, as zoações diminuíram consideravelmente, até poderia dizer que me tornei popular, se eu não fosse bem realista. Participar da banda da escola, fazendo parte da Bamboletes , foi de longe a melhor ideia que minha mãe deu.

Tudo bem que a seleção pra participar da banda era bem traumática e muito humilhante. Ouvir desaforos como: "Ela nem tem peito muito menos bunda" ou "Ela não tem o corpo ideal" das meninas que faziam parte a mais tempo da comissão de frente foi a situação mais contraditória que já passei pois eu sabia que boa parte daqueles 'peitos' só tinham aquele tamanho todo graças ao sutiã de enchimento que a tia da cantina vendia.

Mas depois de ser escolhida pela minha beleza interior, ou por piedade, eu finalmente entrei pra "Banda Marcial da Escola Municipal Deputado Hilton Gama". A banda em si era até legal, tinha certa popularidade pelas CRE's*. A banda do Hilton Gama era a banda mais bem estruturada do bairro, sendo assim ela tocava algumas músicas para outras escolas no Desfile Cívico, aquele desfile da independência do nosso país. 

Nós costumávamos ensaiar bastante antes do dia do desfile. Todos da banda possuíam uniforme, mas as Balisas e as Bamboletes se destacavam pelas roupas. As Bamboletes usavam um colam -que na minha opinião era bem transparente- da mesma forma que as Balisas. As únicas diferenças eram a saia cor de clara de ovo e o bambolê. De resto era igual, meia 7/8, sapatilha branca e luvas. Os meninos da banda usavam uma espécie de Dólmã e os instrumentos da banda, obviamente. 

Sendo assim a escola disponibilizou dois ônibus, mas ambos eram apenas para os meninos da banda, e isso fez com o que todas as Bamboletes e Balisas se revoltassem. Afinal de contas, existiam dois ônibus e os meninos com os instrumentos da banda cabiam perfeitamente em um. O outro ônibus voltaria para a garagem e todas as meninas teriam que ir a pé para o local do desfile. Tudo parecia perdido, se minha mãe não entrasse no meio. Ela fez um discurso maravilhoso sobre igualdade dos integrantes da banda, disse que Bamboletes e Balisas possuíam os mesmos direitos ou até mais sobre os integrantes da banda, já que fazíamos mais movimentos e não ficávamos na sombra. Por fim, depois de ser aplaudida de pé pelas integrantes da Balisa, Bomboletes e suas mães, ela finalmente colocou todas as meninas no outro ônibus e assim fomos para o desfile. Tudo correu bem, mas o que me chocou foi o que aconteceu dias depois do desfile. 

Pelo discurso que minha mãe fez no dia do desfile, todas as criaturas que estudavam no Hilton Gama e até outras das escolas vizinhas ficaram sabendo da existência dela. Não só ficaram sabendo da existência da minha mãe. O nível de popularidade dela era tão alto que se tornou mais popular que eu. -Tudo bem que uma ervilha seria mais popular que eu, mas você entendeu- Por conta desse ocorrido eu ganhei o estigma de "Filha da tia Sônia". Ninguém mais lembrava meu nome, tudo o que eu aturei na seleção para ser uma integrante das Bamboletes foi por água abaixo. Por fim, toda a minha "popularidade" deixou de existir, pelo fato da minha mãe ser bem mais cool, descolada e cheia de atitude que eu.

 *CRE é a sigla para Coordenadoria Regional de Educação, resumidamente falando, uma CRE cuida do desempenha das escolas e todas essas coisas bem chatas :v

Olá, eu sou a Vanessa, mas pode me chamar de Foliê. Curso Design Gráfico na UNESA, tenho 23 anos e sou uma aspirante a Web Designer e a Fotógrafa. Trabalho no ramo fotográfico a dois anos e crio peças gráficas a pelo menos seis.

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